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Automobilismo brasileiro E se mudar o foco?

Quando falamos em automobilismo a primeira coisa que vem a nossa cabeça é a Fórmula 1, maior categoria do mundo. A grande maioria dos pilotos de kart, base do esporte a motor, onde inicia a preparação para formar um piloto profissional, sonha chegar à categoria e, assim como Senna e Hamilton, construir uma carreira de sucesso. Mas existe uma barreira enorme entre o querer e o poder e, o aspecto financeiro faz parte deste entrave.

O investimento é grande para formar um piloto de alto nível, e o retorno monetário não é garantido. A captação de patrocínios está cada vez mais difícil, mesmo para aqueles que conseguem aprovar projetos de isenção fiscal. Mas porque é tão difícil conseguir patrocínios? O automobilismo tem um público apaixonado e fiel, assim como o futebol. Então, por que um é tão popular e o outro não? Justamente, porque o automobilismo é caro e considerado elitista para a grande maioria das pessoas.

E tem como o automobilismo brasileiro ser visto diferente?

Os holofotes estão sempre direcionados aos pilotos, mas a estrutura de trabalho por trás deles é complexa. São times multidisciplinares formados por profissionais que atuam dentro e fora das pistas: mecânicos, engenheiros, profissionais de dados e inteligência, nutricionistas, preparadores físicos, e se analisarmos o automobilismo enquanto evento, a cadeia de profissionais é ainda maior.
Agora, vamos pensar na possibilidade de tirarmos um pouco o foco do piloto e colocarmos na formação de pessoas. Transformar o automobilismo brasileiro em um braço das universidades e centros tecnológicos. A parceria com instituições de ensino aproximaria o esporte a motor de um público maior, as notícias vinculadas nos meios de comunicação seriam mais abrangentes, e estes fatores talvez, pudessem popularizar e criar uma sinergia em torno do automobilismo. Qual empresa que não gostaria de vincular a sua marca em um projeto como este? Claro que precisaria de um planejamento responsável e gradativo para a implementação da ideia.
Mas este conceito não é inédito. A Nascar, Stock Car norte-americana, criou a Nascar Technical Institute, uma escola técnica, bancada pela categoria, que prepara profissionais para os campeonatos, e os melhores alunos podem trabalhar diretamente em algumas equipes. O programa é recente, mas tem formado uma mão de obra cada vez mais especializada, e isso tem colaborado com o aumento da popularidade da categoria.

No Brasil, estudantes de Engenharia Mecânica de diversas universidades participam da Fórmula SAE (Society of Automotive Engineers). A competição teve início nos Estados Unidos em 1981 e foi impulsionada pelas montadoras General Motors, Ford e Chrysler, que viram o programa como uma forma de garimpar talentos. Em 2004, a Fórmula SAE chegou ao Brasil. O objetivo é oportunizar a prática do conhecimento adquirido pelos alunos em sala de aula desenvolvendo um projeto completo e construindo um carro tipo Fórmula além de outros produtos. As equipes melhores classificadas conquistam o direito de representar o Brasil em duas competições internacionais realizadas nos EUA. Versões nacionais do desafio são realizados ainda na Alemanha, Austrália, Inglaterra e Itália.
Outro exemplo aconteceu na penúltima etapa da Copa Super Paraná de Kart, em 2018, a APK (Associação de Pilotos de Kart) deu início a um projeto que ofereceu oficinas de fotojornalismo e videodocumentário esportivo a estudantes do curso de jornalismo da instituição Uninter de Curitiba-PR. A iniciativa gerou um feedback positivo nas matérias produzidas pelos estudantes para as mídias da universidade. Infelizmente, devido à dificuldade de renovação do contrato de locação do kartódromo Raceland entre a APK e o antigo administrador, a Copa SPK e o projeto não tiveram continuidade. O kartódromo permaneceu fechado e sem atividades até início de 2020, quando mudou a administração do parque esportivo.

A CBA (Confederação Brasileira de Automobilismo) entidade que tem como objetivo dirigir, difundir e incentivar a práticas de todas as modalidades desportivas do automobilismo no país, criou a Escola Brasileira de Kart (EBK). O projeto tem como missão facilitar o alcance de crianças à prática do kart e passar valores e princípios que vão muito além do esporte. Por que não estender o acesso a jovens e adultos oferecendo os kartódromos e autódromos como oficinas de aprendizagem? Volto a enfatizar que um projeto voltado para a formação de pessoas poderia diminuir o entrave de patrocínios e democratizar o automobilismo, pois sabemos que este esporte oferece muito mais do que entretenimento.

(Texto publicado na 12ª edição impressa da revista Podium – abril/2021)

Por: Eni Alves

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