Eu, o meu Fusca e o mundo!

Keme Cruz e José Antônio se aventuram pela América do Sul a bordo de um dos maiores ícones automotivos do Brasil

Percorrer seis países da América Latina a bordo de um Fusca parecia uma ideia maluca, mas perfeitamente possível. O objetivo inicial era conhecer o Chile, e claro, os Fuscas não poderiam ficar de fora da viagem de dois alucinados pelo ícone automotivo da Volks. Clemerson Cruz, o Keme, e o primo José Antônio Domingues pesquisaram o trajeto com a ajuda de alguns amigos brasileiros, argentinos e chilenos. Foi aí que surgiu a proposta de visitar seis países passando por três capitais federais.

O Fusca vermelho, ano 1974 e o prata, ano 1996, série ouro, (último Fusca Itamar produzido no Brasil), receberam uma boa revisão, itens obrigatórios e essenciais para o percurso e partiram com os viajantes no dia 23 de setembro de 2017, sentido Porto Alegre-RS. Foram 750 km no primeiro dia da jornada, o trajeto mais longo de todo o roteiro. Os “primos” ainda não tinham dado conta que ficariam tanto tempo fora de casa e que conseguiriam chegar a lugares tão incríveis com os Fuscas.

Diário:

O primeiro destino saindo do Brasil pela cidade de Chuí-RS foi o Uruguai. Chegamos a Punta Del Diablo e seguimos beira-mar até a capital Montevidéu, passando pelos sedutores balneários de Valizas, La Pedrera, La Paloma e o famoso Punta Del Este, considerado pela revista Forbes (2008) o mais luxuoso balneário da América do Sul. Depois de apreciarmos a culinária uruguaia, em Montevidéu, seguimos para a Colônia do Sacramento, única cidade do país fundada por Portugueses em 1680.

Cruzamos o Rio de La Plata pelo Buquebus, balsa que faz a travessia do Uruguay para a capital Argentina, Buenos Aires. Aproveitamos para fazer compras na Duty Free – loja de departamentos com isenção total de impostos – e mesmo com o forte temporal em alto Rio de La Plata chegamos com segurança no belo Porto Madero.

Os Fuscas descansaram em frente à Casa Rosada, sede do governo argentino, enquanto nós fizemos o clássico passeio ao ar livre pelo Jardim Japonês, no bairro de Palermo. Seguindo firmes e fortes na aventura repousamos na pacata cidade de Venado Tuerto, em um hotel aconchegante cuja dona é brasileira. Fomos muito bem recebidos e tratados. Chegando a Mendoza, província localizada aos pés da Cordilheira dos Andes, fomos abordados pela polícia. Impressionante a educação e gentileza dos agentes interessados na origem e destino dos Fuscas. Satisfeitos com a nossa informação, nos indicaram um hotel com excelente custo-benefício.  A programação era ficar alguns dias na cidade, mas a ansiedade de chegar ao Chile, ápice da viagem, era imensa.

Depois de quatro horas na fila para atravessar da Argentina para o Chile, a grande recompensa! Paisagens deslumbrantes, nada comparado com o que tínhamos visto. Aquela é uma das estradas mais perigosas do mundo, e estávamos ali com os nossos Fusquinhas guerreiros. A sensação foi incrível!

Chegando à Santiago, capital do Chile, fomos hospedados pelo grande amigo Rafael Basso. Uma estadia para ficar na história. Somos muito gratos pelo carinho, atenção e aconchego daquela família. O próximo destino era o Valle Nevado. Lugar fantástico e muito frio. Mais uma vez, os Fuscas nos deixaram boquiabertos ao chegarem tão bem a uma altitude de 3.025m. Foi divertido brincarmos feito crianças com os nossos carrinhos. Passamos um dia incrível, com direito a guerra de gelo e tudo mais. Após muita comilança com o Chef Basso, veio o descanso e a saudade da família… estávamos a mais de 15 dias longe de casa.

Amanheceu e era a hora de seguir em frente com a aventura rumo a Bolívia. Novamente, fomos surpreendidos por paisagens singulares e belíssimas. De um lado, o deserto, e do outro, o oceano Pacifico. Passamos por La Serena, e regiões do Antofagasta como Taltal, Calama e San Pedro do Atacama, considerado o lugar mais seco do mundo e onde ficamos hospedados por dois dias. A natureza é selvagem e exuberante, contrastando com uma região árida e altamente turística. Continuando a viagem, não víamos a hora de chegar  em Salar de Uyuni, outro destino inusitado.

Ao atravessar do Chile para Bolívia a coisa muda completamente de figura. Acostumados com ótimas rodovias (pedagiadas), enfrentamos estradas de terra e sem nenhuma infraestrutura. Se alguma coisa acontecesse de errado estaríamos, literalmente, fritos pelo calor do Deserto do Atacama. Após longos 300 quilômetros naquela estrada sinistra chegamos a Salar de Uyuni, o maior e mais alto deserto de sal do MUNDO, com 10.582 km2 de área e a 3.656 metros acima do nível do mar. Chegar lá foi incrível, mas chegar lá com os Fuscas foi coisa de outro planeta! Turistas do mundo inteiro ficaram impressionados ao ver os Fuscas naquele lugar. Os guias turísticos com carros grandes de tração 4×4 estavam perplexos, pois conhecem como ninguém os desafios daquela região.

Exploramos o excêntrico Salar de Uyuni o quanto deu e chegou a hora do retorno. A saudade de casa, a essa altura, doía no peito. Voltamos para  a Argentina, pela cidade Villazón, enfim, estradas descentes. Fomos parados de novo por policiais argentinos. Desta vez, revistaram tudo, até as roupas sujas a procura de drogas, mas de maneira muito educada. Passamos por Salta, região linda e com ótimas vinícolas. A pressa de chegar em casa fez com que percorrêssemos 825 km de Salta a Resistência em apenas um dia.  Em cada acelerada o ronco do motor soava como música aos nossos ouvidos.

Os Fuscas mereciam uma noite de descanso. Na manhã seguinte, comprinhas no Paraguai, comes e bebes na feirinha da Argentina, e Foz do Iguaçu! A alegria de chegar em solo brasileiro nos contagiou. Finalmente a próxima parada era o Lar, doce Lar. A chegada triunfal com os Fuscas mais inteiros do que nós e a recepção da família, nosso maior bem, foi uma felicidade só. O sentimento por completar essa aventura de 9.608 km em quase 30 dias, passando por seis países a bordo das lendas de 1974 e 1996 é indescritível. Uma viagem que todo entusiasta de carros deveria fazer.

Narrado por Keme Cruz e José Antonio Domingues

Texto: Eni Alves

Fotos: Arquivos da viagem